Fantastic Beasts and Where To Find Them | Direção: David Yates | Roteiro: J.K. Rowling | Elenco: Eddie Redmayne, Katherine Waterston, Dan Fogler, Alison Sudol, Colin Farrell, Ezra Miller e Jon Voight | Gênero: Fantasia e Aventura | Nacionalidade: Estados Unidos e Reino Unido | Duração: 2h13min
Me chamem de cinéfila fajuta por nunca ter terminado de assistir a franquia Harry Potter e simplesmente ter me jogado de braços abertos na nova empreitada de J.K Rowling nos cinemas. Os Animais Fantásticos e Onde Habitam mata o saudosismo que os verdadeiros fãs do bruxo de Hogwarts deixou após o último filme Harry Potter e as Relíquias da Morte ter sido lançado lá em 2011. A sorte grande é que por se passar muitos anos antes do nascimento de Harry Potter, o filme dirigido por David Yates deixa até o mais desinformado na saga vislumbrado com esta nova série. Principalmente pela harmonia que os protagonistas transmitem na tela.
Acredito que até hoje não posso reclamar de alguma interpretação de Eddie Redmayne em seus filmes. A cada papel, não apenas entrega uma excelente trabalho, mas surpreende por deixá-lo com uma característica própria e nunca se repetir. Em Animais Fantásticos, ele dá vida ao excêntrico magizoologista Newt Scamander, um inglês que está de visita em Nova York e acaba deixando a sua coleção de fantásticos animais do mundo da magia escaparem de sua maleta. Temendo pela segurança das criaturas e da população, ele corre para recuperá-los e acaba esbarrando e envolvendo muito mais pessoas que deveria nesta jornada. Scamander está longe de ser o grande herói da história toda, porém carrega a sensibilidade e inocência necessária para que até o mais descrente do universo acabe segurando a sua mão. Eddie transmite isto não só pela sua expressão corporal, mas com a personalidade que criou para Scamander. Impossível não se envolver por um personagem solitário e um tanto atrapalhado que só vê o lado bom das coisas, até mesmo nas criaturas mais esquisitas da sua maleta.
É o que acontece com o não-magico, ou o trouxa, Jacob Kowalski (Dan Folger), que poderia se tornar apenas um empecilho passageiro na aventura de Scamander, mas se transforma em um grande aliado na história. Sem contar os momentos hilários que proporciona. Para tentar provar o seu valor no Congresso dos bruxos americanos, Porpentina Goldstein (Katherine Waterston) tenta a todo instante recuperar o seu cargo e a confiança com as autoridades quando entrega Scamander para seus superiores, porém todas tentivas frustradas. Sua irmã, Queenie Goldstein (Alison Sudol), é completamente o oposto de Porpentina. Ela é a sedutora que aparenta apenas se importar com assuntos fúteis, mas ao longo de sua participação, acaba sendo uma agradável surpresa. Especialmente ao se apaixonar por um cara totalmente fora de sua zona de conforto. E para concluir a lista do elenco com ótimo timing, Ezra Miller é o traumatizado e perturbado Credence, filho adotivo de uma fanática religiosa e que nos deixa com um misto de pena e medo ao aparecer em cena.
Desde que o 3D ocupa boa parte das sessões nos cinema no Brasil, nunca encaro uma sessão neste formato, se não houver outra escapatória. Já na exibição em Imax de Animais Fantásticos, a vida tomou outro sentido. Os efeitos proporcionados são espetaculares e tornou boa parte da história até mais verossímil. Isto porque a magia não estava apenas na ação na tela, mas também na essência de tudo. O único porém nisto tudo é a demora do encontro da segunda história em paralelo, que é sobre uma estranha e sombria ameaça que aterroriza Nova York, com o quarteto protagonista. Mesmo que o principal objetivo seja capturar os bichos mágicos, a expectativa pelo o que vai acontecer na segunda poderia decepcionar pela tamanha espera.
Animais Fantásticos e Onde Habitam traz rápidas referências (as que lembro, claro) aos filmes da antiga saga, mas tampouco precisou resgatá-los a todo instante. A direção de David Yates, que dirigiu os quatro últimos filmes de Harry Potter, soube dar uma identidade para esta nova produção. Mesmo leiga que sou no assunto sobre Hogwarts e afins, o longa sabe te entreter ao apresentar este mundo de Scamander, cheio de criaturas especiais que lhe ensinam muito mais do que uma escola de bruxaria. Os personagens tornam o filme mais forte do que o próprio objetivo em si, principalmente por causa da união que os move. E apesar de um final sem grandes mistérios e que não deixa suspeitas do que possa vir, Animais Fantásticos e Onde Habitam iniciou a sua caminhada nos cinemas com o pé direito, mostrando que sabe caminhar sozinho com as próprias pernas.