Direção: Amy Berg | Gênero: Documentário | Nacionalidade: Estados Unidos | Duração: 1h43min
Cry Baby é uma das músicas de Janis Joplin que certamente gruda tanto na cabeça que se torna a favorita de qualquer um na primeira vez em que ouve. Depois de assistir Janis: Little Girl Blue, não só esta canção como todas do repertório ficaram e começaram a fazer todo sentido. O documentário tenta mostrar quem foi esta mulher que certamente todos já ouviram falar, mas pouquíssimos realmente conhecem a trajetória. Diferente de Amy Winehouse e Cássia Eller, que foram cantoras com quem pudemos acompanhar enquanto ainda estavam vivas, Janis morreu aos 27 anos, em 4 de outubro de 1970. Uma data tão distante da idade da maioria que a idolatra nasceu, não é mesmo? Isto torna o filme ainda mais curioso para quem gosta de cinebiografias carregadas da discografias dos protagonista em si.
Janis: Little Girl Blue é conduzido por seus irmãos e pessoas com quem trabalhou ao longo da sua “curta” vida. A cantora se torna presente em vídeos caseiros, entrevistas e performances em shows. A narrativa segue na ordem cronológica com as histórias narradas pela Cat Power através das cartas que Janis enviava à sua família. O que deixa o tom do filme bem melancólico e muito nostálgico. Não surpreende o fato do sorriso de moleca que Janis exibia em suas fotografias ser o contraste do que ela realmente sentia. Afinal, da onde vinha toda aquela intensidade em suas músicas?
Na infância, Janis cresceu em uma região conservadora e percebeu desde cedo, que para se destacar era preciso ser diferente e sabia que nunca se encaixaria nos moldes daquela sociedade. Porém, sempre era provocada pelos meninos em sua volta, lhe chamando de feia e até ganhando o título de “O homem mais feio” na faculdade. Palavras que a machucaram profundamente, criando feridas que tentou curar conforme o tempo. Solitária, descobriu na música folk e principalmente imitando as suas divas do blues, e também nas drogas, os lugares onde poderia desabafar e desabar livremente. Encontrou a sua banda e assim partiram em busca do sucesso.
Toda aquela dor que sua voz e suas letras transmitiam diziam tanto de sua vida. Mesmo que em ritmos mais empolgantes ou com sua energia sempre hipnotizante no palco, Janis se mantinha forte, como se tivesse superado tudo que tinha sofrido até então. A maioria de suas músicas expressa de que queria um amor, um homem para chamar de seu ou quanto aquela noite de sexo foi excitante. Ainda que se relacionasse com mulheres, Janis, de certa forma, buscou a aceitação masculina em sua vida com um relacionamento saudável. Existiram vários homens, mas também teve quem foi a pessoa certa no momento errado. Desencontro que a atingiu, pois afinal, ela só queria ser amada e ir embora para casa com alguém. No momento que você percebe quem foi este cara, dá um arrepio que você nem acredita em como a vida pode ser uma FDP.
O filme segue a tradicional fórmula de entrevistas, registros caseiros e momentos musicais. Por ter morrido há mais de 30 anos, Janis Joplin acaba se tornando uma artista que ficou fora do nosso alcance por estar distinta literalmente de nossas vidas. Por isso, em Little Girl Blue, não há o compromisso de fazer o público conhecer por inteiro a cantora de quem apenas desfrutamos o seu talento. Entretanto, o documentário ajuda na compreensão da onde veio este talento.
Infelizmente, são poucos os momentos íntimos que podemos acompanha-la em seus bastidores, deixando ainda mais o mistério da sua personalidade quando não está trabalhando. Há muitas apresentações e entrevistas que nos entretém, enquanto que os amigos e parentes nos contam o que acontecia naquela fase. O arquivo pessoal pode ser antigo e longe de ser em alta definição, mas é rico. Assistir a canção favorita fica ainda mais prazerosa em uma tela grande. Os momentos finais são os mais emocionantes, por justamente relacionar a síntese da história e a música que dá título ao filme. Janis: Little Girl Blue é uma linda homenagem para esta cantora que merecia muito um documento como este. E esteja onde estiver Janis, baby, I know, just how you feel.