Coração Vagabundo x Life Is But A Dream

Na onda de documentários musicais que assisti neste ano, resolvi fazer uma breve comparação aos dois últimos que apreciei: Life Is But A Dream (2013), da Beyoncé, e Coração Vagabundo (2009), de Caetano Veloso. Dois artistas distintos, mas igualmente talentosos. Minha opinião, certo? Ambos os filmes têm o mesmo propósito que é acompanhar a vida destas duas figuras e mostrar bastidores, ensaios, entrevistas, convívio com a família e uma música aqui e acolá. Nenhum dos documentários chega a ser biográfico, pois registra apenas um certo período da vida de cada cantor e cada um tem a chance de se manifestar sobre qualquer assunto que lhes convém.

Direção: Fernando Grostein Andrade | Roteiro: Giuliano Cedroni  | Gênero: Documentário | Nacionalidade: Brasil | Duração: 1h11min

Em Coração Vagabundo, acompanhamos Caetano Veloso nos Estados Unidos e no Japão, onde ele irá divulgar o seu primeiro álbum gravado inteiramente em inglês. Nestes dois países, o filme dirigido por Fernando Grostein Andrade, podemos viajar com Caetano e conhecê-lo em etapas. Em Nova York, conhecemos um Caetano músico e divertido, que fez história na música popular brasileira, conta um pouco a sua trajetória, quando foi vaiado, elogia o colega músico no ensaio e nos proporciona vários momentos musicais. Ainda na cidade nova iorquina, Caetano ainda nos confessa sobre como se sente antes, durante e depois de uma entrevista internacional. Ele ainda abre a porta da sua intimidade e até almoçamos com sua então esposa Paula Lavigne. Amigos do baiano também aparecem para dizer o quanto ele é maravilhoso. Destaque para Pedro Almodóvar e os arrepios que me deixou quando comentou sobre a participação de Caetano no filme Fale Com Ela. Licença que Michelangelo Antonioni também tem uma emocionante aparição quando revê um trecho do seu filme que Caetano é fascinado. A cena fica ainda mais bonita com uma música italiana do próprio música por cima.

Já quando parte para o Japão, Caetano mergulha mais no auto conhecimento e divide com o público muito sobre a suas opiniões. Como acredita que o mundo seria um lugar bem melhor sem religião, citando Imagine de John Lennon. (E não é que ele tem razão?). Falando sobre a sua família, que não acreditava que um dia teria filhos, o medo de envelhecer e como as pessoas se surpreendem ao conhecê-lo pessoalmente, pois achavam que ele seria misterioso e distante, mas que ficam fascinadas pela abertura que Caetano dá. Em 71 minutos, a impressão que tive é que Caetano me deixou tanto para aprender sobre ele, música e sobre a vida, e que me deixou tão a vontade que nem parecia um documentário sobre sua turnê internacional. Assim como este baiano, o documentário é simples, direto e manso. Já perceberam o jeito calmo e sereno que ele fala? É por isso que é um dos grandes cantores do Brasil e nos deixa felizinho com este documento.

Direção e Roteiro: Beyoncé Knowless, Ed Burke, Ilan Y. Benatar | Gênero: Documentário | Nacionalidade: Estados Unidos | Duração: 1h28min

Diferente do que acontece do último documentário de Beyoncé. Em Life Is A But A Dream, também “entramos” na intimidade da cantora que a cada ano vem sempre superando as próprias marcas. Se nos anos 80 e 90, Madonna criou o universo pop, Beyoncé veio para tomar conta nos anos 2000. O documentário seria a melhor chance para os fãs conhecerem, por exemplo, a Beyoncé bagunceira e loucona que nem vemos no videoclipe de 7/11. Mas o filme foge disso. O principal problema vem da direção que é da própria Beyoncé. Ela tem uma obsessão imensa em controlar a sua imagem que isto acaba prejudicando demais quando resolve se abrir diante das câmeras. Em sempre querer escolher o que vai passar ou não durante a projeção. Até própria entrevista que intercala com as imagens de arquivo é feita sob comando da cantora. Me desculpe, mas o rapaz que aparece durante a entrevista é apenas de fachada.

O filme resgata trechos da vida de Bey durante 2011 e 2012, quando estava produzindo o álbum 4 e consequentemente a nova turnê. Lá vemos ensaios, músicas sendo gravadas no estúdio, bastidores da sua exaustidão, exigências e seus depoimentos com vídeos caseiros que grava quando está sozinha. Segundo Bey, é um costumo seu falar sozinha para poder desabafar quando não tem ninguém por perto. Um ponto pra ela neste quesito, afinal, material é o que não faltaria, mas o que me incomoda é que estes vídeos são gravados perfeitamente e sempre posicionados em um ponto observador da sala. Diferente do que ser pego de surpresa ou ser abordada pelo seu diretor. O que soaria muito mais natural. Mas apenas para não pegar no pé  da cantora, um dos momentos mais interessantes é quando explica o por quê da ruptura com seu pai como empresário. Ali, são estes pontos que faltavam no documentário. Não que a sua vida íntima tivesse que ser o foco, mas faltou mais polêmicas. Após esta confissão, ela revela rapidamente sobre seu aborto espontâneo que aconteceu depois da sua mega transformação no Billboard Music Awards. Fora estes dois assuntos, tudo é uma maravilha.

Não que este documentário me faça gostar menos da artista que é Beyoncé. Até consigo admirá-la ainda mais, pois ter este pulso firme em cima da sua carreira, somente ela consegue fazer atualmente. Porém, Life Is But A Dream não seria um título certo para este filme. A sua vida é um sonho e graças a isto, inspira e nos alegra todo dia com seus hinos que sempre colocam a mulher lá no topo do mundo. Sem medo de se entregar em suas apresentações, Beyoncé também não deveria ter medo de demonstrar as suas falhas.

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