Room | Direção: Lenny Abrahamson | Roteiro: Emma Donoghue | Elenco: Brie Larson e Jacob Tremblay | Gênero: Drama, Suspense | Nacionalidade: Canadá, Irlanda | Duração: 1h58min
O Quarto de Jack é um dos filmes mais intensos da temporada. O amor entre mãe e filho sempre mexerá mil vezes comigo do que qualquer outro relacionamento. Principalmente em casos extremos como a retratada no longa. Joy (Brie Larson) vive isolada dentro de um pequeno quarto junto com seu filho de 5 anos, Jack (Jacob Tremblay). Sobrevivendo às custas de Nick (Sean Bridgers), Joy faz de tudo para Jack não saiba da terrível realidade em que vivem, tentando tornar o tempo deles suportável dentro daquele lugar. Lá eles vivem apenas assistindo televisão e criando (e imaginando) o seu próprio mundo. O pequeno não tem a menor ideia de como é a vida fora daquele cativeiro. Trancafiada há mais de 5 anos, a exausta Joy bola um plano com ajuda de Jack para conseguir fugir daquele quarto e voltar a ter uma vida. Se é que é possível. A direção de Lenny Abrahamson é delicada e respeitosa com a situação que mãe e filho viveram. Não precisando extravasar no sofrimento dos dois, e nem fantasiando demais ao fato que é tão corriqueira aqui na vida real.
O filme é concentrado nos dois personagens principais, mas quem rouba a cena (e que deveria ser indicado ao Oscar) é o pequeno Jaco Tremblay. A história é contada sob o seu ponto de vista sobre a vida que levava e que considerava normal. Nem por um momento desconfia da tragédia que vivia. Tudo graças a sua mãe, que preocupada com o bem estar da criança, não deixou nem ao menos Nick chegar perto dele nestes anos todos. Jack tem as falas mais poéticas e que devido a sua inocência, cativa profundamente quem assiste. A maturidade que ele carrega no personagem mostra que é tão adulto quanto a sua mãe. Joy, por outro lado, conhece o que é bom e o que é mal na sociedade. Infelizmente, a sua readaptação é difícil e estressante, pois não basta apenas ser retirada fisicamente de um confinamento, a mente também precisa de recuperação. E esta é a pior parte. Joy dorme para conseguir esquecer do abuso que sofreu nestes anos, enquanto que seu filho aprende a viver na realidade que apenas via na televisão. E por mais que a jovem não queira relembrar nunca mais daquele quartinho, para Jack aquela foi a melhor época da sua vida. Quando havia apenas ele e sua mãe. “Temos menos tempo, porque o tempo tem que ser espalhado por cima de todos os lugares, como manteiga. Só o que as pessoas dizem é: “Depressa!”, “Vamos logo!”, “Ande mais rápido!”, “Termine já!”…Tem tantas coisas aqui, e às vezes dá medo, mas tudo bem…porque ainda somos só você e eu.”
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45 Years | Direção e Roteiro: Andrew Haigh | Elenco: Charlotte Rampling e Tom Courtenay | Gênero: Drama | Nacionalidade: Reino Unido | Duração: 1h35min
Um casamento de 45 anos não é feito para qualquer casal. Mas para Kate (Charlotte Rampling) e Geoff (Tom Courtneay) este quase meio século juntos passou voando. Ao lado de grandes amigos, o casal construiu um relacionamento bem sólido. Com a decisão de não terem tido filhos, era mais do que natural os dois firmarem uma grande lealdade. Na semana em que comemoram os 45 anos de casados, Geoff recebe a notícia de que o corpo de sua ex-namorada foi encontrado no fundo de um vale nevado. Como o ex-casal costumava fazer trilhas em montanhas, o corpo da moça foi dado como desaparecido após uma queda numa destas viagens. Geoff fica mexido com a “volta da ex-namorada”, que por estar congelada, deveria estar da mesma forma quando a viu pela última vez. Reacendendo a velha paixão que tinha ficado com a falecida.
Mas pera lá, e a Kate? A coitada tem que ficar ouvindo histórias de como a vida de Geoff era feliz quando namorava com a moça, que aparentemente tinha colocado o rapaz como familiar em seus contatos, por isso a carta. Inicialmente, Kate apoia o marido que fica abalado com a notícia, porém, aquilo acaba o consumindo mais que o normal. Kate também acaba se entorpecendo com o fantasma do “grande amor” da juventude de seu marido, deixando o ciúmes lhe corromper e lhe instigando com a dúvida de se o seu casamento, na realidade, foi apenas um tapa-buraco de Geoff. Ao invês de uma conquista, como aparentava ser. Mesmo o homem sendo o ponto principal, Kate é quem comanda a história sob o seu ponto de vista. Revirando velhas caixas e descobrindo ainda mais o por quê daquela mulher ter sido mais importante do que ela própria na vida de seu marido. Infelizmente, encontramos respostas. E no olhar de Kate, no dia que deveria ser pleno de felicidade, também encontramos a sua nova verdade. “Minha mãe morreu naquele ano. Eu não sei por que isso é engraçado, mas é. Nós não nos conhecíamos ainda, você e eu, mas nós estávamos vindo de algo realmente desagradável e nós nunca conversamos tínhamos conversado sobre isto em todos os anos em que nos conhecemos. Eu quero te perguntar uma coisa antes de irmos dormir: se ela não tivesse morrido, se vocês tivessem chegado à Itália, você teria casado com ela? Sim, nós teríamos casado.” Acho que isto já basta.
[…] trazendo novamente o pequeno Jacob Tremblay arrasando em cada segundo de projeção. Se em O Quarto de Jack, ele era a força espiritual que sua mãe precisava para sobreviver, em Extraordinário, Auggie […]
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