
Só de ouvir o nome de Ingmar Bergman me arrepia cada fiozinho do meu corpo. Desde da época em que estudava cinema, eu tinha um receio de seus filmes por temer sofrer demais com suas histórias. A primeira vez que eu o encarei foi com Gritos e Sussuros e não deu outra. Não sofri, mas terminei com o coração carregado como se aquele drama familiar fosse meu. Tenho muito essa mania. Mas isso não me fez desistir, gostei e tive muito mais curiosidade em conhecer mais as obras desse sueco. Além do mais ser uma obrigação minha, como cinéfila, assistir aos seus filmes.
O Sétimo Selo foi minha segunda “degustação” de Bergman. O tema da morte é onipresente neste filme lançado em 1956. Passado durante o século XIV, o cavaleiro Antonius Block (Max Von Sydow) retorna das Cruzadas e encontra o seu país natal praticamente devastada pela peste negra. Muitos acreditam que a doença era uma punição de Deus. Desacreditado e sem nenhum pingo de fé, Antonius tem a visita da Morte (Bengt Ekerot) que surge para levá-lo, mas o cavaleiro a desafia numa partida de xadrez na tentativa de driblá-la para ganhar mais tempo de vida. Enquanto isso ele vaga pela cidade ao lado de seu escudeiro Jons, que arranja uma “esposa”, e conhece uma família de atores, Mia, Joseph e o seu bebê Michael, e um artesão que está atrás da sua mulher. Ao se apegar a este grupo, Antonius segue em direção ao seu castelo para abriga-los e protegê-los da peste, ao mesmo tempo que conversa, manipula e joga com a Morte que não o para de perseguir.
É um filme antigo e de difícil digestão para quem não gosta deste tipo. Já eu, adoro. O som, os cortes, a interpretação, do cenário e principalmente dos créditos. Ingmar Bergman expressou o que a Europa, nos anos 50, sofria. A Segunda Guerra Mundial deixara marcas e feridas tão intensas que assim como no filme, a morte era tão presente no ar que fez a crença de todo mundo ser questionada. Por isso esta comparação com outro momento histórico ao representar O Sétimo Selo na Idade Média no continente europeu. A mesma coisa acontece quando os crentes de que a culpa da peste veio das mulheres, que eram consideradas bruxas e queimadas, os nazistas queriam exterminar os judeus do mundo através do genocídio.
Enquanto que a Morte afirma não ter conhecimento nenhum, o escudeiro Jons é o oposto. Este mantém conhecimentos sobre tudo e é conselheiro na vida de todos. Tudo que Antonius questiona, o seu empregado parece ter todas as respostas na ponta da língua. Cheio de frases feitas e cético em todas as suas palavras, Jons é o meu personagem favorito ao ser fiel ao seu patrão ao mesmo tempo que adora caçoar dele. A única fonte de esperança ali é a família de Mia e Joseph, que ingenuamente, viajam com a sua carroça para atuar de Festival em Festival e sonham com dias melhores para seu filho. E espertamente, conseguem fugir da Morte ao perceberem que ela está mais perto do que imaginam. O casal é único a carregar uma leveza às cenas tão pesadas com os pensamentos alheios, como as suas roupas sempre tão claras em contraste ao restante do elenco. É possível ver que eles são os únicos fora daquele caminho da morte e que nem pensam muito nisso, ao contrário do restante. A paixão pela arte e principalmente a sua vida, sua rotina, faz com que o casal seja salvo pelo cavaleiro que conseguiu, à sua maneira, fazer algo de significativo na sua vida os acobertando da “peste” da Morte.
Apesar do clima moribundo e o cheiro de desespero no ar, O Sétimo Selo realmente traz aquele minimo de esperança que faz a humanidade continuar fugindo da morte na tentativa de fazer algo pela sua vida. Assim como Ingmar Bergman pode descansar em paz agora pois com certeza esta obra valeu por muitas.
Direção e Roteiro: Ingmar Bergman.
Elenco: Max von Sydow, Gunnar Björnstrand, Bengt Ekerot, Bibi Anderson.
Gênero: Drama.
Nacionalidade: Suécia.