Livre

185343Após a morte de sua mãe, um divórcio e uma fase de autodestruição repleta de heroína, Cheryl Strayed decide mudar e investir em uma nova vida junto à natureza selvagem. Para tanto, ela se aventura em uma trilha de 1100 milhas pela costa do oceano Pacífico. Fonte: AdoroCinema 

Há algum tempo, uma pessoa que costumava fazer parte da minha vida, uma vez me disse que me achava muito mais bonita quando estava sem maquiagem. Demorei muito pra entender de fato o que ele quis dizer, afinal de contas, me arrumo tanto pra ter que ouvir essas coisas, mas hoje eu compreendo o elogio e o repasso para Reese Whiterspoon em Livre. Aqui, ela não só se livra de qualquer artefato cosmético, como se despe de qualquer pudor, frescura e medo. Assim ela nos conduz na sua aventura solitária pelas trilhas do Pacific Crest Trail, quase na fronteira dos Estados Unidos com o Canadá, para se limpar completamente do seu passado e trazer a sua melhor parte de volta.

Esse ano foi uma das temporadas em que poucos filmes me deram aquele desespero de sair correndo e assisti-lo. Livre estava fora das películas que estava esperando ansiosamente pra desfrutar. Mas como a própria protagonista menciona: “a gente nunca está preparado para aquilo que espera” e adotando as gírias das ruas eu rebato: “né?” Apesar de ter o espírito dramático, eu sou uma pessoa difícil pra chorar em filmes e a história baseada no livro autobiográfico da verdadeira Cheryl Strayed, Livre – A Jornada De Uma Mulher Em Busca do Recomeço lançado em 2012, me pegou tão desprevenida que não poupei nenhuma lágrima. Cheryl Strayed (Reese) teve como ápice para largar tudo a morte da mãe, o divórcio, o vício em heroína e as constantes traições que cometeu durante o seu casamento. Ao começar a sua trilha, Cheryl está completamente perdida e com cara de que vai desistir a qualquer momento. Por mais que os primeiros dias sejam difíceis, principalmente por desconhecer o trajeto e pelas pessoas que passam pelo seu caminho, a moça está determinada de que precisa passar por isso para encontrar o que havia se perdido dentro de si. É totalmente clichê essa premissa, mas realmente é tocante como a história vai se desmembrando e nos deixa refletindo sobre o que ela passou. Afinal de contas, ela não tem nada a perder e este momento sozinha é fundamental para a sua recuperação.

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597809.jpg-r_640_600-b_1_D6D6D6-f_jpg-q_x-xxyxxQuem tem um relacionamento muito próximo a sua mãe entenderá porque raios eu me acabei chorando com as cenas em que Laura Dern aparece e torna o filme rico em sentimentos que somente uma alma maternal pode transmitir aos seus filhos. Bobbi (Laura) é por quem Cheryl se perdeu após a sua morte. Ela era a razão de Cheryl continuar cantando. Ela é a verdadeira busca de Cheryl em sua jornada. Ela era a sua melhor parte. E isso e todas as escolhas, que foram erradas ou não, que levaram a personagem principal por este caminhos desconhecidos. Laura Dern nos entrega uma mãe sorridente e faceira que apesar da “vida de merda” que leva, faz de tudo para dar o mínimo de amor na sua casa e que não se arrepende de nenhum momento da sua vida. Ela responde pra sua filha “Mas e daí? Eu não me arrependo de ter casado com um bêbado idiota, pois eu ganhei você e seu irmão. Não é fácil, mas vale a pena”. É a demonstração de uma mulher que tem que preencher todos os requisitos: mãe, esposa, trabalhadora em prol dos outros, às vezes até esquecendo de quem ela era e do queria. A atriz rouba a cena e mostra o que uma atriz coadjuvante tem que fazer durante um filme: dar a força necessária para o principal da história.

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“Vou voltar a ser a mulher que a minha mãe imaginava” disse Cheryl quando chega no limite da sua droga de vida. Ao mesmo tempo que diz isso, Reese se depara com uma enorme rocha no seu caminho no presente em algum lugar do deserto dos Estados Unidos. E não foi o único obstáculo que Reese Whiterspoon teve que enfrentar durante o rolo todo e isso foi o que a tornou uma heroína, não só pra nós que assistimos, mas para ela própria. Particularmente, achei o seu melhor desempenho nas telas, superando até June Carter em Johnny & June, por a interprete realmente se despir e se expor de várias maneiras. Se entrega para aquela jovem inocente que se transforma na porra loca até o momento em que finalmente amadurece no fim da sua trilha. E se lembra do elogio que ganhei no início do texto? A verdade por trás disso é que somente iremos entender a verdadeira beleza de uma pessoa e chamá-la de linda sem qualquer enfeite, após conhecermos a sua história, a sua intimidade e principalmente a sua alma. Entre um flashback e outro, o espectador tem plena noção disso quando ela explode de saudade da mãe ou quando liga para o irmão e lhe dá conselhos sem esperar algo em troca ou até mesmo quando não hesita em dizer que a culpa do fim do seu casamento foi sua.

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Livre tem a direção de Jean-Marc Valée e ele soube exatamente o que trazer para nos deixar melancólicos e esperançosos de que apesar da vida não ser fácil, ela vale a pena. E não só isso. Mesmo não tendo o seu início um tanto entusiasmado, a gente se prende com Reese em seus flashback, onde o filme realmente ganha força, deixando levemente  cansativo toda a sua caminhada durante o presente do filme. Mas nada que irá perder o encanto. O melhor do seu passado é a ordem não-cronológica dos fatos. Não deixando-nos crentes do que vamos ver e sim do que precisamos ver. O roteiro de Nick Hornby traz aqueles velhos questionamentos em que todo mundo já parou para pensar nos momentos de procrastinação ou quando batemos, sem querer, naquela porta do “o que estou fazendo com a minha vida?”. E sabe o que devemos fazer? “Encontrar a sua melhor parte e quando encontrar, segure-a pelo resto da vida.”  Tente.

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