No passado, Riggan Thomson fez muito sucesso interpretando o Birdman. Entretanto, desde que se recusou a estrelar o quarto filme com o personagem sua carreira começou a decair. Em busca da fama perdida e também do reconhecimento como ator, ele decide dirigir, roteirizar e estrelar a adaptação de um texto consagrado para a Broadway. Em meio aos ensaios com o elenco formado por Mike Shiner, Lesley e Laura, Riggan precisa lidar com seu agente Brandon e ainda uma estranha voz que insiste em permanecer em sua mente. Fonte: AdoroCinema
Existem alguns filmes que a gente já sabe que vai ser bom só pelo nome e sinopse. Muitos decepcionam, é claro. Mas Birdman ou a Inesperada Virtude da Ignorância tem um elenco cheio de estrelas e possui um enredo, no mínimo curioso, se tratando no quesito de voltar a existir no mundo do show business. E depois de assistir o filme, todas as minhas expectativas (ainda bem) foram atendidas.
Riggan Thomson (Michael Keaton) interpretou o super-herói Birdman e após recusar protagonizar um quarto filme do personagem, a sua carreira decai e a única solução para voltar a ter alguma relevância no mundo cultural é quando resolve produzir, escrever, dirigir e atuar numa peça na Broadway. Mas óbvio que não ia sair fácil essa empreitada. Riggan tem que saber lidar com Mike Shiner (Edward Norton), um cara sem escrúpulos, mas um excelente ator; Sam (Emma Stone) sua filha que a recém saiu da reabilitação; Laura (Andrea Riseborough) sua namorada que acha que está grávida, Jake (Zach Galifianakis) seu agente e melhor amigo que faz de tudo para segurar as barras; Lesley (Naomi Watts) uma atriz insegura e Sylvia (Amy Ryan) sua ex-esposa que aparece para ser o conforto de Riggan nesse momento tão tenso da pré-estreia de sua peça.
Como uma câmera-olho, não piscamos em nenhum momento quando adentramos naquele ambiente teatral, até porque não há tempo para isso. Não existe cortes e nem segundos para esperar algo acontecer. Na Broadway há sempre um draminha acontecendo em seus bastidores. E gostaria de dar um beijo em quem investiu no plano-sequência em Birdman que teve um grande ponto extra por essa façanha. Desde que vemos Riggan em seu camarim meditando com a sua consciência de homem-pássaro, a gente anda, espia, corre, sua com todo o elenco e sem nenhum corte (visível) entre uma cena e outra, um dia e outro, e entre um show e outro. A história sempre deixa a peteca na mão de algum personagem que nos conduz a uma nova passagem na película que tem como acompanhamento uma trilha sonora sempre perspicaz nas horas de maior ânsia pelo o que rola na tela. A direção de Alejandro González Iñarritu é de nunca nos deixar no tédio ou esperando. Quase duas horas de filme se passam sempre na batida do jazz e você nem sente. A fotografia nos proporciona grandes momentos sem deixar de quebrar a sua sintonia com a montagem que simplesmente mata a pau, pois não há outra forma de elogiá-la.
Quem deve ser elogiado também aqui é Michael Keaton, que interpreta um ator que tenta recuperar a sua relevância no mundo da dramaturgia fazendo teatro, algo muito recorrente nesse meio quando não há muitos convites de Hollywood. E ele não está sozinho nessa. Na sua sombra está o Birdman, que além de ser a sua consciência, também lhe dá super-poderes para extravasar e alimentar seu ego quando está em conflito. Um Birdman que remotamente lembra a voz de Christian Bale quando está encarnado em Batman (just saying). E se vemos este herói aposentado em ação? Sim, conseguimos ter este acontecimento quando Keaton tem o seu clímax e liberta as asas que há dentro de si.
Edward Norton também é resgatado nesse longa. Como um desbocado e sem limites Mike Shiner que acha que tudo pode, seria um personagem muito fácil de odiar se não fosse a competência de nos dar um cara experiente e que sabe o que faz quando está no palco. Mesmo com seus escândalos, o filme não seria o mesmo sem ele (atenção para a hilariante cena de briga com Michael Keaton de sunga e chinelo rider). Mais dois atores que não passaram despercebidos são Emma Stone e Zach Gallifianakis. A moça nos entrega uma rebelde que só quer um pouco de atenção paterna sem virar uma menina mimada. Sua simpatia nos pega logo de cara. Conhecido pela triologia de Se Beber, Não Case, você nem reconhece Zach como o agente de Riggan Thomson. Aqui ele não está afetado como em seus outros papéis no cinema e mostra que sabe fazer mais do que simplesmente mexer no seu cabelinho quando quer chamar atenção. Por incrível que pareça, em Birdman, ele é o adulto que tem que resolver tudo para o mundo.
Nunca foi tão difícil escrever uma resenha quanto foi de Birdman. Escolher as palavras certas e o modo como passar adiante este belíssimo filme foram tarefas em que fiquei horas pensando como. Principalmente por ser uma história (que vemos sendo reproduzida em manchetes) contada de maneira diferente e ousada em termos de narrativa. Birdman mostra a difícil adaptação de um ídolo do passado na era moderna que despreza os meios que poderiam lhe ajudar (oi, redes sociais) e a sua busca pelo antigo prestígio. Como em Cisne Negro, aqui o personagem principal tem que fazer seus sacrifícios para se tornar um marco na história. Fiz essa comparação com o filme que traz Natalie Portman como o Cisne, pois a obsessão pelo personagem-título é tanta que suas atitudes são tão fantasiosas (fica muito mais lindo se você se desprender da realidade), e traz aquela voz da consciência que se torna real a fim de colocar o ponto final no espetáculo que cada um merece.
[…] foi parar em mãos mexicanas: Cuarón por Gravidade (2014), Alejandro González Iñárritu por Birdman e O Regresso (2015 e 2016) e del Toro por A Forma da Água (2018). Onde está seu muro agora, […]
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