Baseada no livro “Vale Tudo – O Som e a Fúria de Tim Maia”, o filme percorre cinquenta anos na vida do artista, desde a sua infância no Rio de Janeiro até a sua morte, aos 55 anos de idade, incluindo a passagem pelos Estados Unidos, onde o cantor descobre novos estilos musicais e é preso por roubo e posse de drogas. Fonte: AdoroCinema

Uma das figuras mais polêmicas da música brasileira, Tim Maia demorou para chegar aos cinemas com muita história e canção pra rolar na telona. E mesmo que no cinema brasileiro não exista o gênero musical de fato, pode-se dizer que cinebiografias de cantores, sempre será um atrativo para o público. Não só pela curiosidade de saber a vida íntima do cara, mas também pelo embalo que a história nos dá.

Chegamos na vida de Sebastião Rodrigues Maia a partir da sua infância quando já era conhecido por ser um rechonchudo desaforado. Trabalhando como entregador de marmita no bairro assim seguiu até a sua adolescência (aqui encarnado por Robson Nunes) quando resolveu dar um jeito na sua vida. Com ouvido aguçado para a música, logo percebeu o seu dom para a coisa. Formou The Sputniks com mais três amigos, entre eles, o tanto caricata Roberto Carlos (George Sauma), mas não foram muito longe do que umas apresentações em um programa musical na televisão. Algo revolucionário para a década de 60, quando o estilo iê-iê era a sensação do momento. Até chegar a sua ascensão, o agora Tim Maia, viajou para os Estados Unidos; foi preso; voltou pro Brasil; fugiu; foi preso de novo aqui até finalmente chegar no seu amigo Roberto e conseguir uns bicos como compositor.

É difícil tentar resumir o mais breve a história do rei do soul da música brasileira. E este foi um dos poréns do filme de Mauro Lima, que quis passar por vários capítulos na vida de Tim pois este realmente tinha história pra contar. Mas não podemos esquecer que não temos o dia inteiro para ficar no cinema (imagina que lindo seria) e também não queremos ficar tão estupefatos de tantos fatos que ocorreram. É como se fôssemos informados de tanta coisa que no fim, vamos lembrar só de alguns detalhes, e não da obra como inteiro. O que é uma pena pois sempre pensei em um filme do Tim Maia, não só cheio de canções de festa e dor de cotovelo, mas com mais aprofundamento e menos velocidade. O grande triunfo do longa são seus diálogos cheios de piadas sujas, desaforos cheio de palavrões e bate-bocas pra sentar e desfrutar. Quando falavam que o cantor não tinha papas na língua e nem sangue de barata não foi em vão. Isso tudo num trabalho coletivo entre elenco e roteiro que dá uma grande guinada nas cenas, morô?

O filme traz aquelas obras que adoramos cantar em bares e festas de formatura. Em vários momentos cheguei a me arrepiar pela tamanha caracterização que Babu Santana passou para viver o Tim adulto e famoso. O carão e o jeito desbocado, sem medo de nada, apenas de ficar sozinho, são únicas. Não ficou caricato, como mencionei lá com Roberto, mas ficou uma reencarnação evidente na pele e também na alma do ator. Robson Nunes não fica para trás. Mesmo nunca tendo conhecido o Tião na sua juventude, o ator construiu, e nos preparou, para o seu sucessor no filme que certamente poderíamos dizer que era uma pessoa só.

Certamente você viu que Alinne Moraes e Cauã Reymond estão no longa, mas infelizmente não interpretam nada além deles mesmos. Elesparticipam de forma ativa na vida do cantor, mas não chegam a serem os salvadores da pátria. Outro ponto, já tocando no assunto Cauã, é que por ser uma importante figura na vida de Tim, o personagem Fábio nos conduz o filme todo. Às vezes, a narração incomoda se ela for de fato mais onipresente que a imagem que vemos. Além de subestimar demais quem assiste. Porque no fim, parece que o filme é do narrador e não do personagem que leva o nome no título da obra. As músicas mesmo não sendo interpretadas da forma como eu gosto, ela é a principal aliada de Tim. Somente ela continua do seu lado, apesar de todos terem ido embora. A expectativa da música Ela Partiu era tanta que os olhos lacrimejaram no momento que tocou ao mesmo tempo que a cena acontecia. Sou fãs de casamentos como este no cinema.

Tim Maia carrega toda a curiosidade e entretenimento que tanto gostamos com cinebiografias. Não só passeamos com ele por tudo que é canto, como cantamos e estamos ao seu lado no seu melhor momento e quando nem ele mesmo pode se salvar.